:: JARDIM DAS GUEIXAS ::
Ciro Pessoa-Ed. Warner/Chappell
Sentado em cima da pedra
Vejo clarões no céu
Nos sonhos que já sonhei
Me encontro neste lugar
Entre orquídeas e pontes
Cores a decifrar
Jardim das gueixas
O sonho leva as minhas mãos
Os tigres que já enfrentei
Agora cuidam de mim
As mãos que pegam nas minhas
Me convidam pra ver
Os raios de um sol cool
Passando pelos vitrais
Jardim das gueixas
O sonho leva as minhas mãos
:: NADA POR ESPERAR ::
Débora Blando / Fê Lemos
Eu gosto desse jeito que você está
Me sedando e me entorpecendo
Gosto de pensar que perder
Os meus sentidos é a solução
Gosto de saber que nas ruas sem saída
É onde eu me acho
Agora vou fechar meus olhos para
Não te ver no rosto de um estranho
Gosto de pensar que hoje eu vou te ter
Do jeito que eu imagino
Sem fronteiras nem bandeiras,
De frente para o destino
Vem me segurar e me libertar do tempo
Que é imperdoável
Vem me proteger para eu enfrentar
O medo que me faz escravo
Nado em suas águas
Deságuo nas ondas do mar
Sem vela, na tempestade
Nada por esperar
:: CASTELO DE CRISTAL ::
Silvana / Fê Lemos
Às vezes
Precisamos fazer
Tudo acontecer
Como um conto de fadas
Às vezes
Quero acreditar
Que tudo vai passar
Como um conto de fadas
Às vezes
Quero acreditar
Que você vai ficar
E nada vai me faltar
Mas sempre
Sempre acordo sozinha
Castelos feitos no ar
Como um conto de fadas
Acordo com a febre da rua
Junto aos restos do que sobrou
Tento não lembrar, tarde demais,
Cacos de vidro refletem a minha dorPensamos
Que o mundo conspira
Pra nossa alegria
E o resto virá de graça
Sonhamos
Que todas as mentiras
Mortalmente feridas
Decerto vão dissipar
E a trilha
Coberta pela neblina
Um leve sopro de vida
De novo vai nos guiar
Mas quando
A infância termina
Destruída por brigas
Quem é que vai me ajudar
:: IMPRESSÃO ::
Fê Lemos
A primeira impressão
é a que fica...
A primeira impressão
é a que fica...
Fica...
:: DESCENDO O VELHO CHICO ::
Talita / MJ Laurent / Fê Lemos
Eu tenho quinze anos
Mais parecem cento e trinta
Há tantas coisas pra ver
Que eu só vi na TV
Eu quero cair na vida
Eu quero melibertar
Ta tudo seco aqui
Preciso me salvar
O que ela pode fazer
Se ela tem fome de viver
O que ela pode fazer
Se ela tem sede de prazer
Sua mãe pobre coitada
Não acreditava no que ouvia
E ralando a rapadura
Repetia a ladainha
“Minha filha, ouve bem,
Escuta o que eu vou dizer:
O teu lugar é aqui, minha filha,
Paga pra tu ver!”O que ela pode fazer
Se ela tem fome de viver
O que ela pode fazer
Se ela tem sede de prazer
Dá um gole dessa pinga
Adeus linda caatinga
Dá um gole de cachaça
Adeus velha bruaca
Eu disse adeus velha bruaca
Adeus linda caatinga
Adeus
:: BUSTED IN BRAZIL ::
Fê Lemos
Faixa instrumental
:: O DESEJO FAZ DANÇAR ::
Débora Blando / Fê Lemos
Amanhece o dia
Ainda não dormi
Passo o tempo pensando
Como vai ser quando acontecer
Tudo aquilo que eu pressinto
Estou aqui por você
O que mais eu nem sei
Sou assim só com você
Você me deixa a fim
Te quero pra mim
Nada vai mudar
Espero que sim
Sempre vou te amar
Vcê me atrai
O desejo faz dançar
E me satisfaz
Parece um filme que
Jamais começa
Eu aqui te esperando
Às perguntas que ainda vão surgir
Você responde sem me ferirQuando te vi, sem tocar
Só de olhar eu já pequei
O teu calor num beijo meu
No que vai dar eu já sei
:: GENTE QUE PASSA ::
Ariela / Fê Lemos
Gente branca, quente
Danada de ruim
Gente grande, gostosa
Gente, brava gente
Estúpida e metódica
Gente decadente, grossa
Gente velha, feia
Doida, burra e porca
Gente fina, morta
Ilustre e atrevida
Gente elétrica
Insistente, distinta
Gente fria, morna
Ardente, erótica
Gente, gente, gente
Que passa
Gente, gente
Que ficou pra trás
Gente, gente, gente
Que passa gente
Gente, gente que
Ficou pra trás
Passa gente, passa gente
Passa, passa, passa
Gente que mente
Passa, passa, passa
Passa gente
Gente, gente, gente, gente
Gente que passa
Gente, gente, gente que
Ficou pra trás
Gente mente, mente, mente
E mata
Gente
:: DIBI E VICKY (Brincando no quarto secreto) ::
Fê Lemos
Faixa instrumental
:: A CASA DA LUZ VERMELHA ::
Fê Lemos
Ela: Não!... Não!...
Ele: Ahn... Ahn..., ahn, ahn, ahn...
Ele: Mais, mais, mais, mais, mais, mais
Forte, mais forte...
Ele: Mais forte!
Narrador: A casa...
Ele: Agora você vai ser minha!
Narrador: A casa da luz vermelha
Fica atrás da colina
Curral de negras ovelhas
Que o sol n~~ao ilumina
Ela: Eu sou virgem, não
:: NEM MAR, NEM PUTO ::
Fê Lemos
Nessa estada que eu vou caminhando
Eu admiro o que vou encontrando
Olho pra lá, olho pra cá
Sempre mudando, parece um encanto
A saudade me persegue
A novidade até que diverte
No balanço da corda bamba
Meio travado tocando o meu barco
Qual será o seu motivo
O que que você está esperando
Quando eu vejo alguém vacilando
Eu caio fora
Se liga nos toques, confia na sorte
Não anda de lado, guenta o tranco
Olha onde você está pisando
Não vá cair por engano
Nesta estrada de curvas e retas
Às vez... Outras na certa
Eu nunca paro pra pensar, não
Eu nunca penso em parar
Não sei o que vem atrás do morro
Talvez em perigo, quem sabe acho
Um poço
Água pura pra lavar o meu rosto
Ou lama lá da rua pra cagar no
Meu olho
Mas se um dia tua sorte mudar
E te deixar mal no pedaço
Sem ter pra onde ir, nem como voltar
Não banque o palhaço
Agradeça a Mãe Natureza
Por ainda estar vivo
Respira, a estrada é longa, certeza
E cante comigo
Se eu não tenho mar, nem
Um puto
Nem alguém para amar
Tudo o que eu posso fazer
É cantar...
// FICHA TÉCNICA //
2005 - HOTEL BÁSICO
Produzido por Franco Junior e Fê Lemos
Impressão produzida por VJ Vanni, Frnco Junior e Fê Lemos
Dibi e Vicky (Brincando no quarto secreto) produzida por Fê Lemos
Gravado no M4J Studio, São Paulo
Dibi e Vicky (Brincando no quarto secreto)
Gravada e mixada no DM Estúdio,
São Paulo, 1997
Produção de Pro-Tools: André “Kabelo” Sangiacomo Mixado por Frnco Junior e Fê Lemos
Masterizado por Renato Patriarca
// RELEASE //
2005 - HOTEL BÁSICO
"Nos sonhos que já sonhei, me encontro neste lugar...”
Jardim das Gueixas/Ciro Pessoa-Ed.Warner/Chappell
Depois de mais de 20 anos no mundo dos ton-tons com a banda Capital Inicial, o baterista Fê Lemos descobre a musicalidade do mundo dos tons.
Faixas produzidas em inumeráveis hotéis, intermináveis noites que ficaram na sua memória.
Com produção de Franco Junior, o CD começou a ser composto a partir de 1989. A trilha de Fê Lemos é fascinante, faz dançar e traz parcerias inéditas em vozes femininas e do próprio criador. O resultado eletrônico de “Hotel Básico” é detalhado pelo próprio autor, através de dez perguntas para Fê Lemos. Sugerimos ler ouvindo faixa a faixa...
1) Porque “Hotel Básico”?
Fê Lemos - Eu passo grande parte da minha vida dentro de hotéis, por causa dos meus compromissos com o Capital Inicial. Em 2001 eu estava trabalhando em uma música no meu laptop, em um hotel em São Paulo , enquanto minha namorada dormia, na cama à minha frente. Pensei em nomes para a música que eu estava fazendo, e isso me levou a pensar no estilo da música: era um drum ‘n’ bass, um chill-out, um house, ou apenas uma canção pop, feita no computador? Comecei a pensar nesses nomes, e ‘house’ (casa) me trouxe imagens da minha casa, e da casa que eu vivia atualmente, um hotel, mas, não apenas aquele hotel, mas inumeráveis hotéis, intermináveis hotéis. Esta noite ficou na minha memória.
Alguns anos depois, durante a gravação do CD, após a participação das cantoras convidadas, eu, conversando com o Franco Junior, disse que aquela situação, as várias parcerias, tinha algo a ver com um lugar onde pessoas, desconhecidas entre si, vão para fazer alguma coisa, secretamente, como um hotel, ou motel (…). Me lembrei daquela noite em 2001, e achei que havia alguma coisa aí. O hotel, então, se referiria às diversas participações, e ao fato de eu ter composto as músicas em diversos locais, na estrada, e não em um estúdio. Mas que espécie de hotel? A imagem que me veio não foi dos hotéis luxuosos, que eu tinha passado a me hospedar após o sucesso do CD ‘Acústico - MTV’ , mas sim as tranqueiras que já tinha, e ainda encaro, pelo Brasil a fora. Um hotel básico, enfim. E o nome surgiu.
2) Quando você começou a compor música eletrônica?
Fê Lemos - Em 1987, o tecladista Bozzo Barreti passa a fazer parte do Capital Inicial, e ele nos apresenta dois equipamentos, um chamado ‘sequencer’, ou sequenciador, e o outro o ‘sampler’ ou sampleador. Através da tecnologia MIDI, o sequencer é capaz de gravar uma performance nos teclados, ou numa bateria eletrônica, e depois reproduzi-la, corrigindo o que estava errado, acrescentando novos timbres etc. O sampler permitiu ao músico ter acesso a qualquer tipo de som, de um ruído a uma orquestra, e também a poder ‘roubar’ qualquer som e incorporá-lo à sua composição. Essa tecnologia tornou o músico auto-suficiente para gravar sem precisar entrar em um estúdio. Fiquei fascinado pela possibilidade de poder compor, eu não tocava nenhum instrumento melódico, mas com esses equipamentos as portas da criação musical se abririam para mim. Em 1988 adquiri meu primeiro sampler, um AKAI S-900, e um sequencer ALESIS MMT-8, e me joguei de cabeça no mundo dos tons, depois de quinze anos no mundo dos ton-tons…olvimento desse novo lado na sua carreira?
Fê Lemos - Foi lento. A minha carreira musical sempre foi condicionada ao Capital Inicial, com sua agenda extensa e intensa, e por eu ser o baterista. Os primeiros anos são gastos para entender e dominar aquele mundo novo. Eu não tinha nenhuma experiência com teclados, e meu ouvido não era treinado. Em 89, eu gravo pela primeira vez uma composição minha: a batida e o refrão da música ‘Mambo Club’ do disco “Todos os Lados” do Capital Inicial surgem das minhas experiências com programação musical. Em 1991 as músicas ‘Chuva’ e ‘Auá-auá’ do disco “Eletricidade” também. Nos anos seguintes, começo a ouvir música eletrônica regularmente, e aperfeiçoo minhas composições. As primeiras parcerias só surgem em 94, quando sincronizo pela primeira vez guitarras e vocais com o computador, que nesta época já havia substituído o sequencer. Em 96 e 97, sou sócio de um estúdio comercial em São Paulo , e novas parcerias surgem. Em 98, o Capital Inicial grava ‘Paz no matadouro’ - uma composição minha. É nesta época que começo a pensar em gravar um CD. Também fica claro: eu dependeria de parcerias para poder gravá-lo.
4) E quando você decidiu que ia finalmente gravar o seu primeiro CD?
Fê Lemos - Em 1999, a crescente agenda do Capital Inicial desde o retorno à formação original no ano anterior me afasta da composição, e o computador passa a servir para responder e-mails e organizar o site. Em 2000, o lançamento do ‘Acústico MTV’ transforma nossas vidas, e tem sido assim desde então. Mas em maio de 2003, durante a turnê do disco seguinte, “Rosas e Vinho Tinto”, eu lembrei mais uma vez do meu sonho de gravar um CD, e simplesmente decidi que se eu não criasse a oportunidade para gravá-lo, ela nunca iria aparecer. E foi isso. Trouxe para São Paulo meu home-studio que estava em Brasília, vasculhei meu arquivo de canções, e durante quatro meses preparei um CD-demo com o que eu achava mais representativo dos meus dez anos como compositor eletrônico.
5) Quem é Franco Junior, o co-produtor do seu CD?
Fê Lemos - Ele é um amigo de longa data, de São Paulo. Ele é tecladista, produtor e compositor. Surgiu no cenário musical na mesma época em que o Capital Inicial, tocando com Kiko Zambianchi. Tocou com o RPM na sua segunda formação. Foi tecladista e técnico de som do Capital Inicial nos anos 90. Descobriu a música eletrônica mais ou menos na mesma época em que eu, e trabalhou ativamente neste segmento, produzindo discos para artistas como DJ Mau-Mau, M4J, Lunatics, Edson Coelho, Laura Finokiaro, entre outros. Foi produtor e compositor da primeira banda de eletrônica/industrial do Brasil, o P.U.S., por coincidência também de Brasília.
6) Quem são seus parceiros, e como eles surgiram?
Fê Lemos - O primeiro a trabalhar comigo foi MJ Laurent, um cantor e compositor gaúcho que morou em São Paulo nos anos 90. Hoje em dia ele é instrutor de rafting em Santa Catarina. Ele criou a melodia de ‘Descendo o Velho Chico’.
O Fejão é um caso a parte, ele foi sem dúvida o músico mais brilhante que Brasília já produziu. Seu talento foi um privilégio que infelizmente poucos puderam apreciar. Ele faleceu há alguns anos. De 93 a 94, ele trabalhou como roadie do CI, uma maneira de conseguir algum dinheiro em São Paulo , enquanto tentava fazer decolar sua carreira como guitarrista e compositor do Dungeon, uma excelente banda de metal que refletia aqui no Brasil o renascimento desse gênero de rock no mundo. Uma tarde convidei-o para gravar alguma coisa para uma música que eu havia feito, após um almoço em casa. Ele deixou a guitarra e o baixo de ‘Descendo o Velho Chico’ para nós.
A Ariela foi a primeira parceira, da época do meu estúdio em São Paulo. Ela é a mãe do Fred, sobrinho do Dinho. Tivemos uma banda juntos, o Bah!, que deixou algumas fitas DAT gravadas, mas nunca se apresentou ao vivo. Ela criou a melodia e escreveu a letra de ‘Gente que Passa’. Quando decidi que ‘Impressão’ precisava de uma voz feminina sussurrando a frase ‘A primeira impressão é a que fica’, que eu lembrava de uma antiga propaganda das lâminas de barbear Gillette, já sabia quem chamar.
A Silvana é da mesma época, me foi apresentada por uma amiga em comum. Ela cantava em bares em São Paulo , e a convidei para passar no estúdio. Mostrei-lhe uma música que eu havia feito há algum tempo, eu a chamava de ‘Hong Kong Love’ porque tinha um clima oriental. Eu tinha acabado de escrever uma letra para minha filha, chamada ‘Castelo de Cristal’, eu havia me divorciado havia pouco tempo. Ela leu a letra e criou a melodia no ato. Gravei aquele momento em fita, mas não voltamos a nos encontrar. Cinco anos depois recriamos ‘Castelo de Cristal’. Pedi também para ela cantar o refrão de ‘Nem mar, nem um puto’, que os fãs antigos do CI vão reconhecer. Foi gravada como uma vinheta no disco ‘Eletricidade’, com o título de ‘Auá-auá’.
A Debora Blando dispensa apresentações. Nos conhecemos desde os anos 80. Porém, nosso reencontro merece ser contado. A Debora morou vários anos nos Estados Unidos, e eu não a via desde meados dos anos 90. Um dia, no final de 2003, eu estava em um hotel (mais um…) no interior de São Paulo. Estava zapeando a tv, matando o tempo, esperando o show daquela noite. De repente, aparece a Debora, fazendo um playback num desses programas de auditório de sábado à tarde. Caramba! pensei, há quanto tempo não vejo essa mulher! Será que ela está de volta ao Brasil? E se… E nesse momento o telefone de contato dela apareceu na tela. Anotei, e liguei. Falei com o produtor dela, que me passou seu telefone. E a história foi feita. A Débora estava sim de volta ao Brasil, morando em Florianópolis - ela é manezinha da Ilha - , mas procurando um apê em São Paulo. Ela passou no estúdio, mostrei a demo e perguntei se ela gostaria de participar do projeto. Ela escolheu ‘Nada por esperar’ (o título de trabalho era ‘Sex in the shadow’, ainda não tinha letra). Gravei um CD com a demo da música para ela levar para casa, e ficamos de nos falar no Ano Novo. No carnaval de 2004, eu estava velejando na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, e liguei de novo para ela. Ela tinha criado a melodia, e queria me mostrar. Fiquei muito emocionado, ela sentada em frente ao laptop, no meu quarto no hotel (mais um…), ouvindo a base nos fones de ouvido e gravando o ‘lá lá lá’ da melodia no microfone do próprio laptop! De volta a São Paulo, nos encontramos e escrevemos a letra juntos. Convidei-a para gravar mais uma música, e desta vez eu mostrei ‘O Desejo faz dançar’ (o título de trabalho era ‘O botão quebrado’). Era nesta em que eu queria a sua voz, desde o começo. Fizemos a letra juntos, a letra mais romântica do CD. Ela é uma cantora extraordinária, a participação dela enriqueceu imensamente este projeto. E pensar que surgiu de uma coincidência, de uma probabilidade quase impossível de imaginar…
Finalmente, a Talita. Ela é uma jovem cantora paulistana, da cena de rock underground. Canta numa banda chamada Motores. Eu a conheci através de amigos em comum, os músicos da banda dela são velhos conhecidos. Eu não tinha quem cantasse ‘Descendo o Velho Chico’, uma letra irônica que ao meu ver requeria uma certa dose de coragem para ser interpretada. A cantora precisaria ‘encarnar’ o personagem da retirante nordestina adolescente, e cantar com raiva. Convidei-a uma certa noite de 2004, para passar no estúdio e ouvir do que se tratava. E ela arrasou! Propôs uma alteração num dos versos da letra, prontamente aceita. O vigor da sua interpretação é contagiante, em uma das faixas mais difíceis do CD, por causa das dificuldades técnicas de resgatar a gravação original em K7(!) da guitarra e do baixo interpretados pelo Fejão.
7) Como surgiu a idéia da capa do CD?
Fê Lemos - Foi o meu amigo Eduardo ‘Balé’ Raggi quem teve a idéia. Ele é um artista gráfico, músico eletrônico e DJ de Brasília. Quando falei que estava produzindo o meu primeiro CD, em 2003, ele se ofereceu para fazer a capa, e me perguntou qual era o título. Durante 2004, ele mandou algumas idéias por e-mail, que faziam referências à quartos de hotel: uma cama (inclusive muito parecido com uma foto do encarte do novo CD do Moby, lançado poucos meses atrás, intitulado… “Hotel”… - as idéias estão no ar!), ou uma foto de um aparelho de tv dos anos 70, a tela refletindo o interior de um quarto. Mas a capa tomou forma quando ele me sugeriu fazer a foto num hotel mesmo, a rigor. Eu poderia ser o gerente, por exemplo, e poderia haver um hóspede entrando, pegando a chave, ou saindo para uma balada. Adorei a idéia, e passei o final de 2004 produzindo a foto, com a ajuda da minha namorada, a estilista Bel Murray. Ela é a hóspede que aparece na capa, conversando comigo. A locação foi no Hotel Cambridge, em São Paulo. A Bel produziu o figurino, juntos produzimos os objetos do cenário, e fomos fotografados pelo Marcelo Rossi. E se você reparar bem, as fotos contam uma história. É só usar a imaginação e prestar atenção aos detalhes,,,
8) Você pretende apresentar este projeto ao vivo?
Fê Lemos - Sim, mas não a curto prazo. Como é um disco eletrônico, provavelmente eu vou optar pelo formato ‘live PA’, onde eu mixaria as faixas e os loops ao vivo com as cantoras e os músicos convidados, eventualmente tocando a bateria junto com o computador. Este projeto envolveu pessoas com agendas próprias... seguimos conciliando o projeto com ensaios necessários e as agendas de cada um. Logo (muito breve) nos encontraremos nas cabines de som, palcos ou em algum "Hotel Básico"...
9) Você cantou em alguma canção deste disco?
Fê Lemos - Eu canto em duas músicas: ‘Jardim das Gueixas’, uma regravação da música do Ciro Pessoa, originalmente lançada no disco “Fósforos de Oxford”, do Cabine C, de 1987. Sempre gostei deste disco, e há alguns anos tive a idéia de fazer um drum ‘n’ bass desta música. Percebi que poderia dobrar o andamento, fazer um loop da introdução de guitarra, e a partir daí eu teria um caminho para seguir. Mas foi difícil cantar, tive que vencer minha insegurança e me acostumar com o som da minha voz.
A outra canção que eu canto é “Nem mar, nem um puto”, onde eu faço um rap. É mais fácil, mas também tem seus segredos, no caso encontrar o melhor ritmo para declamar a letra. Cantar sempre foi um grande sonho, e sempre me pareceu impossível realizá-lo. Por isso decidi que teria cantoras convidadas neste projeto. Mas fiquei satisfeito com o meu desempenho. Vi que é possível cantar, claro que preciso de muito treino e estudo para tentar vôo mais altos.
10) Quais são seus próximos planos?
Fê Lemos - Pretendo divulgar este CD nos próximos meses. É um lançamento independente, pelo meu próprio selo, e isto determina um outro ritmo para a divulgação. Pretendo montar uma equipe de assessoria, escolhendo pessoas que possam me ajudar neste e nos futuros lançamentos. O próximo passo é encontrar uma distribuidora, fazer o lançamento nas principais cidades e pontos de venda e tentar divulgá-lo na tv e no rádio.
Mas, já estou começando a compor o próximo CD! O mais importante, daqui para a frente, é dar continuidade a este lançamento, e ter um novo CD para o próximo ano.